O Dicionário de Naruto – Parte I

Naruto é um dos shounen mais populares no mundo e, como shounen, é caracterizado por ser dirigido a meninos/adolescentes. Entretanto, basta passear pelos diversos fóruns de discussão do mangá/anime para vermos que ”Naruto” tem uma legião de fãs bem mais amplo que o seu público alvo. Para quem conhece a história, não é difícil imaginar por que isso acontece, afinal, ”Naruto” vai muito além de ação e pancadaria. ”Naruto” é sobre amadurecimento, uma fase rodeada de dúvidas e principalmente, questionamentos daquilo que aprendemos como certo ou errado. Em ”Naruto”, Kishimoto conseguiu traduzir em imagens e pequenas falas como conceitos que aprendemos na infância podem ser totalmente modificados quando olhamos para eles com olhos mais maduros. É por isso que esta análise se chama O Dicionário de Naruto; porque muitas vezes Kishimoto nos faz duvidar do sentido real das palavras que encontramos nos dicionários comuns.

Parte I: Naruto e Sasuke: herói, anti-herói ou apenas protagonistas?

Responda sem pensar: quando você ouve a palavra super-herói, qual a primeira imagem que lhe vem à cabeça? A minha é do Super-Homem (trágico, pq eu sempre gostei mais do Batman). A resposta será diferente de pessoa para pessoa, mas acredito que no geral será um personagem idealizado, que sempre teve o certo e o errado bem definidos e nunca quebrou seus princípios.

Pois bem, e quem é o herói do mangá ”Naruto”?
- Alguém que nunca leu a história dirá: “É esse tal de Naruto, não é? Afinal, o mangá tem o nome dele...”

Mas é justamente no primeiro capítulo do mangá que Kishimoto já começa a nos fazer repensar nossos conceitos. Como um herói, ou ao menos um personagem que o autor gostaria que servisse de exemplo para seus leitores, pode ser uma criança que picha monumentos históricos e é o aluno menos estudioso da turma? Mais além, descobrimos que o Naruto que dá nome à série é odiado por quase todos a sua volta e nunca serviu de exemplo para ninguém.

Do outro lado temos o antagonista da história: Sasuke. Kishimoto já começou apresentando o Sasuke como o exemplo de um ninja a ser seguido pelo Naruto (e justamente por isso Naruto não gostava dele). Sasuke tinha as melhores notas, era o preferido das garotas, e claro: o “herói” da história. Foi o Sasuke que surpreendeu o Kakashi na prova dos sinos ao já conseguir fazer o ninjutsu do clã Uchiha, foi Sasuke quem lutou contra os bandidos que surpreenderam o grupo enquanto escoltavam Tazuna, foi o Sasuke quem intimidou o time da areia a primeira vez que eles apareceram em Konoha e era com o Sasuke que todos queriam lutar para medirem suas forças durante o Exame Chuunin. Naruto, ao contrário, nunca deixou de mostrar suas fraquezas... sempre foi o cara que ninguém esperava que fizesse algo heróico, deixado de lado pelos demais personagens (com exceção da Hinata). Se eu esquecesse das dicas NaruHina nesse ponto, essa análise não teria sido escrita por mim! *lol*

Não é à toa que o mangá já começa com uma inversão do papel de herói da história. Sasuke não é o herói do mangá, mas era o “herói” da vila. Isso porque Sasuke agia exatamente como a vila queria que seus shinobis agissem. Oras... Sasuke teve a família inteira assassinada pelo próprio irmão, nunca viu Konoha mover uma palha contra Itachi e, mesmo assim, ainda era o aluno número 1 da academia. Ele jurou vingança contra o irmão, mas nunca se expressou seus sentimentos para a vila que o deixou morando sozinho no Distrito Uchiha. Sasuke nunca incomodou ninguém com seus problemas.

Naruto também tinha sua história triste. Nunca conheceu os pais e era renegado pela vila sem saber porquê. Mas Naruto não se isolou por causa disso, ele queria ser reconhecido e fazia de tudo para aparecer. Naruto estava ali, o tempo todo, gritando, pichando monumentos, chamando a atenção... em outras palavras: mostrando para a vila que eles tinham um Jinchuuriki, que eles tinham um monstro de nove caudas preso no corpo de uma criança inocente que nunca fez nada contra eles. A vila sempre teve vergonha do Naruto, como deveria ter vergonha do massacre do clã Uchiha. A diferença entre Sasuke e Naruto é que um não aparecia, ao contrário daquele que aparecia demais – jogando na cara de todos que a vila tinha problemas, que não era o marco da verdade, da bondade ou da sabedoria.

E aí eu lanço a pergunta: quem é o herói de verdade? Aquele que aceita seu destino e as regras onde vive, ou aquele que nos joga na cara onde estamos errados e procura transformar o mundo? Falando de Sasuke e de Naruto, é fácil dizer que é o Naruto – o protagonista. Mas será que na nossa vida, na nossa sociedade, nós não marcamos também os Sasukes como heróis ou exemplos a serem seguidos e os Narutos como simples arruaceiros sem futuro? (NOTA: Não estou falando do Sasuke que deixou Konoha, mas da imagem que Sasuke tinha perante a vila no início da história.)

Não estou dizendo que sair por aí pichando muros ou largar os estudos são atos de heroísmo. Naruto só se tornou realmente um herói depois que achou um objetivo para sua vida e começou a lutar por ele, indiferente do descrédito dos demais a sua volta. Mas o que Kishimoto quer nos dizer é que não é simples taxar as pessoas de herói ou vilão.

Nós, como sociedade, temos a tendência de esquecer que os nossos gênios são pessoas comuns, que tem problemas assim como nós. Mas nós, envolvidos nos nossos próprios problemas, não estamos a fim de nos preocupar com um menino que, mesmo depois de ter sofrido um trauma tão grande, é obediente e fica no seu próprio canto – fazendo a gente esquecer que tem responsabilidade por ele também. É fácil usar esse menino como exemplo, pois estamos sempre querendo esconder nossos problemas. Konoha pagou caro quando este menino a abandonou para seguir seus próprios objetivos, e foi apenas graças a outro menino, aquele que era sempre criticado, que muitos moradores da vila ainda estão vivos.

Se Sasuke e Naruto são heróis, deixo que cada um interprete o mangá como quiser. A história ainda não acabou, não sabemos se Naruto realmente conseguirá trazer a paz ao mundo que vive ou se ao menos conseguirá tirar Sasuke do caminho de ódio que ele mesmo escolheu para si. Entretanto, o questionamento de Kishimoto continua: será que nossos heróis na vida real são realmente heróis? Será que não estamos negligenciando verdadeiros heróis?

Talvez nós devêssemos olhar com mais cuidado para aqueles que dizemos odiar, sob o risco de ter o mesmo destino de Konoha.

FIM

Esta análise ainda continua, mas provavelmente cada parte será postada num tópico diferente.

4 comentários:

Hakeru-chan | 19 de novembro de 2009 às 19:08

Onde eu assino, Bastet-sama? *-*

Anônimo | 20 de outubro de 2010 às 21:06

Verdade seja dita, naruto está em decadência.

Kishimoto está sem controle sobre a estória. Investiu demais em personagens sem prezar por um mínimo de lógica. Até as personagens novas são cópias de outras, só que com aparências diferentes.

Tem hora que parece Shojo, outras shonen, muitas vezes yaoi. Dá pra ver que é um apelo claramente comercial. Acho que seu fôlego artístico acabou, e, no entanto, para ele é difícil terminar algo que é bastante lucrativo.

Tem gente que não conhece, mas no início do sec XX era costume ler novelas em periódicos (revistas) e em jornais. A idéia que passa é a de Naruto virou uma novela de periódicos.

Fica parecendo que autor faz aquelas pesquisas de intenção de voto e muda o ritmo da estória de acordo com o gosto do eleitor.

A personagem Sasuke é uma vítima disso. Ficou vazio de tanto que já foi explorado. Antes era complexo e se destacava sem precisar ficar exposto, o que ocorre hoje claramente para vender mais para um público feminino ou “masculino”.

O protagonista cai no mesmo buraco. É igual horário eleitoral: ganha quem tem mais tempo de TV.

Outra coisa que eu nunca entendi é a ausência de personagens femininos que tenha real valor. Tirando tsunade, o que vejo são mulheres dependentes da força masculina para conseguir “seus” objetivos. Sei que Kishimoto é japonês, e lá no Japão, até hoje, o macho dum casal anda na frente da mulher, mas tinha uma esperança fraca que o autor não fosse preconceituoso.

O que as nulheres têm? Hinata como a típica personagem inferiorizada pela cultura patriarcal, que quer sair da mando do pai para cair na do marido, mais precisamente, direto ao fugão. Isso explica muito da preferência masculina.

Há tb a Sakura. Desculpem, mas como mulher, é que mais deprecia a gente. Digo isso pq passa a falsa ideia de independência. Talvez seja por minha decepção, confesso. Esperava que ela tivesse uma autonomia que a fizesse agir sem um vínculo humilhante com um macho sem valor. E tem gente que defende esse tipo de relacionamento. Ela tem alguma meta que seja para si mesma? Não. A meta dela até aqui é ser “mulher de malandro”. Desculpem, mas isso é verdade.

Meninas, são essas minhas críticas. Sempre que nós lermos uma estória, temos que manter um olhar crítico para conhecermos os reais valores que passam escondidos. Tenham cuidado ao defender bandeiras que dissimuladamente estão contra nossa classe.

Abraços.

Anônimo | 20 de outubro de 2010 às 21:06
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Anônimo | 14 de janeiro de 2011 às 21:57

nossa !
sem comentarios quero dizer UAL !

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